29 setembro 2011

GUY GOFFETTE

Um poema abordado na oficina de criação poética, com a qual participei da 3ª Jornada de Poesia Moderna da PUC-RS, caiu no gosto dos presentes e foi divulgado através das redes sociais. Como antes já estava na internet, reproduzo-o aqui, agradecendo à poeta Marceli  Andresa Becker que o me enviou em 2010.


EXPECTATIVA

Se vens para ficar, diz ela, então não fales.
Já é bastante a chuva, o vento sob as telhas,
é bastante o silêncio que os móveis entulham
como poeira desde há séculos sem ti.

Não fales por enquanto. Escuta o que me foi
gume na carne: cada passo, um riso ao longe,
o latir do cachorro, a porteira a bater
e esse trem que nunca acaba de passar

sobre os meus ossos. Fica sem palavras: nada
a dizer. Deixa a chuva voltar a ser chuva
e o vento essa maré por sob as telhas, deixa

o cão gritar seu nome na noite, a porteira
bater, ir-se o desconhecido ao lugar nulo em
que vou morrer. Fica se vens para ficar.

Guy Goffette, Bélgica, 1947. Trad. Mário Laranjeira.
Poetas da França hoje: 1945-1995, São Paulo, Edusp, 1996, p. 426. (o poema é apresentado sem título). Attente: 1. (général) expectativa (f); suspense (m); espera (f)  2. (temps) espera (f); tempo de espera.


L'ATTENTE

Si tu viens pour rester, dit-elle, ne parle pas.
Il suffit de la pluie et du vent sur les tuiles,
il suffit du silence que les meubles entassent
comme poussière depuis des siècles sans toi.

Ne parle pas encore. Écoute ce qui fut
lame dans ma chair : chaque pas, un rire au loin,
l’aboiement du cabot, la portière qui claque
et ce train qui n’en finit pas de passer

sur mes os. Reste sans paroles : il n’y a rien
à dire. Laisse la pluie redevenir la pluie
et le vent cette marée sous les tuiles, laisse

le chien crier son nom dans la nuit, la portière
claquer, s’en aller l’inconnu en ce lieu nul
où je mourais. Reste si tu viens pour rester.

Guy Goffette
L’attente, I, La Vie promise, Éditions Gallimard, 1991 ; in Éloge pour une cuisine de province, Éditions Gallimard, Collection Poésie, 2000, p. 237.

21 setembro 2011

III JORNADA DE POESIA MODERNA PUC-RS

Participo dia 22/09 (quinta), com uma oficina de criação poética (relâmpago), na PUC-RS, a partir das 9 horas da manhã, e no encerramento, dia 23, com lançamento de livros. Programação completa abaixo:
Clique na imagem para ampliar
e então mais uma vez

Comissão organizadora
Prof. Dr. Ana Maria Lisboa de Mello
Prof. Dr. Sissa Jacoby
Prof. Dr. Ricardo Barberena
Anna Faedrich Martins (Doutoranda/PUCRS)
Camila Doval (Mestranda/PUCRS)
Joseane Camargo (Mestranda/PUCRS)
Mires Batista Bender (Doutoranda/PUCRS)
Paloma Laitano (Doutoranda/PUCRS

01 setembro 2011

EXPOSIÇÃO 1ª PESSOA: PESSOAS

EXPOSIÇÃO 1ª PESSOA: PESSOAS
Sidnei Schneider
O verbo ser não existe em algumas línguas. Para os seus falantes a ideia de “eu sou” é estranha. O que seria a identidade, então? O relativo ao que em nós é estanque ou ao que se constrói ao longo da vida? Compartilhamento da cultura grupal, que em grande parte a define? Algo perceptível somente em relação ao outro, ao que é diferente de mim? Um espelho que nos conhece e que desconhecemos?

A palavra pessoa,derivada do latim persona, aludia à máscara através da qual a voz do ator soava. No nascedouro, portanto, referia-se a um personagem, distinto do eu. O poeta Arthur Rimbaud disse-o de modo contundente: “Eu é um outro”. O euconstituindo-se através das identificações e dos significantes que vem do outro, segundo a psicanálise.


A contradição interna originou a ideia do duplo, com Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Stevenson, os dois William Wilson, de Poe, Borges e eu, do próprio. Mário de Andrade foi além: “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”. Walt Whitman pretendeu incorporar a todos num paradoxal Canto a mim mesmo: “Eu me contradigo?/ Muito bem, eu me contradigo,/ (Eu sou amplo, abrigo multidões)”.

Constituímo-nos de relações desde que começamos a escorregar por um túnel de úteros há milhões de anos: “quem não tenha necessidade dos outros homens... se não é deus, é um animal”, apontou Aristóteles. Ideias ou vontades nos definem menos do que atos. Para o artista, a ação mais importante está na arte que produz. É o que vinte e uma pessoas, para além da reunião das suas individualidades, oferecem aqui.


Apresentação da Exposição 1ª Pessoa: Pessoas. Clique no convite.

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