19 outubro 2011

SPORT CLUB LITERATURA

O Sport Club Literatura, pilotado pela Lu Thomé no StudioClio, é finalista do Fato Literário 2011. Ontem, participei da 4ª edição como juiz debatedor, junto com o poeta e professor Marlon de Almeida, e os professores Camila Gonzatto e Pedro Mandagará. O meu jogo era um clássico: Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, versus Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. A poeta "amiga das coisas fugidias", foi longe na pesquisa histórica, na contundência e na elaboração formal do seu livro. Escrito na década de 40 e publicado em 1953, durante a chamada Era Vargas, quando o Brasil decidia se seria um país independente, industrializado e democrático ou submetido aos interesses coloniais de Wall Streat (ainda hoje), ela resgatou os primórdios da luta pela liberdade e independência. A delicada Cecília não deixou por menos a prospecção dos traidores, delatores e falsas testemunhas.

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros…
— e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso e impenitente,
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)

Cecília Meireles

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